"Observemos, inicialmente, a nova moral do trabalho. As mudanças nas relações de trabalho foram bem estudadas por Richard Sennett em A corrosão do caráter. Segundo o autor, as transformações econômicas das três últimas décadas alteraram a tradicional imagem do 'trabalhador'. Os indivíduos, afetados pela competição crescente por empregos inseguros, começaram a adaptar suas condutas psicológicas ao perfil social do 'vencedor'. O 'vencedor' deve ser maleável, criativo, afirmativo e, sobretudo, superficial nos contatos pessoais e indiferente a projetos de vida duradouros. Para ganhar mobilidade no volátil mundo do emprego, ele deve aprender a não ter elos sólidos com família, lugares, tradições culturais, antigas habilidades e, por último, com o próprio percurso biográfico.
Sennett define essa nova identidade como a do indivíduo 'desenraizado' e Zygmunt Bauman, em O mal-estar da pós-modernidade, como a do 'turista'. O turista ou o desenraizado é o indivíduo que não se fixa em identidades passadas, que vê o mundo como um espaço de circulação permanente e que jamais projeta o futuro a partir das condições de vida presentes. Esse é um dos principais motivos pelos quais o desejo de possuir objetos industriais se acentuou. Os objetos passaram a ser aquilo que o turista pode ter, ao mesmo tempo, de mais estável e mais mutável. De mais estável porque são as únicas coisas que o sujeito transporta consigo onde estiver e para onde for; de mais mutável por serem facilmente trocáveis se a nova condição do trabalho assim exigir. Em outros termos, a posse de mercadorias permitiu ao indivíduo preservar a necessidade psicológica de estabilidade sem renunciar à elasticidade pessoal exigida pelo mundo dos negócios.
Além disso, os objetos continuaram sendo o que sempre foram desde que surgiram no cenário da economia capitalista, ou seja, a marca do sucesso profissional e social. A aparência do sujeito afluente é determinada pela maneira como se veste; pela qualidade dos objetos de adorno pessoal; pelo tipo de automóvel, de artigos eletroeletrônicos e de objetos de decoração doméstica que possui; pelos restaurantes que frequenta e tipos de esporte que pratica; pelos lugares onde desfruta o lazer; pelas viagens que faz etc. Os objetos de consumo 'agregam' valor social aos seus portadores. Eles são o crachá que identifica 'o turista vencedor' em qualquer lugar, situação ou momento de vida".
COSTA, Jurandir Freire. Perspectivas da juventude na sociedade de mercado. In:NOVAES, Regina; VANUCCHI, Paulo (orgs.) Juventude e Sociedade. Trabalho, Educação, Cultura e Participação. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2004.
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